A cruz contra a cegueira

“Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás! Tu és para mim motivo de tropeço, pois não pensas nas coisas de Deus, mas, sim, nas que são dos homens.” (Mateus 16:23)

Quando Jesus diz que tem de morrer, Pedro diz que ele tem de ter pena de si próprio. Sempre que a morte de Jesus torna-se algo estranho para nós, ficamos prontos a tornar o Salvador numa mera projecção de nós mesmos. Ao não contemplarmos a cruz, ficamos cegos a olhar para dentro, incapazes de ver a nossa terrível necessidade de sermos reconciliados com Deus.

Para Pedro, não é possível que o Messias sofra e morra às mãos das autoridades judaicas. Este plano é inconcebível para quem tem planos humanos de domínio. De tal modo é assim que, no seu descaramento, Pedro nem se apercebe da promessa de ressurreição nas palavras do Mestre. Ao não contemplarmos a cruz, ficamos cegos no desejo de impormos sobre Jesus o nosso desejo de sair sempre por cima.

Pedro tenta Jesus com a mesma estratégia que Satanás usou no deserto—uma glória sem cruz. Ignorar a inevitabilidade da cruz é viver para uma salvação forjada, à moda de Satanás, que ignora o custo real e eterno da nossa ofensa contra Deus. Houve um preço a pagar e esse preço foi a morte do Filho de Deus. Ao não contemplarmos a cruz, colocamo-nos ao lado de Satanás e fechamos os olhos à nossa própria culpa.

A cegueira espiritual de Pedro é a mesma que alimentamos ao ignorarmos que o sacrifício de Jesus é o modelo prático que manifesta a sua salvação na nossa vida. A tentação de nos guiarmos pelas coisas dos homens vê-se no modo como evitamos o custo de sermos fiéis a Cristo. Quando isso acontece é como se, tal como Pedro, estivéssemos a sugerir a Jesus uma versão mais atraente de vivermos pela fé que não implique morrer diariamente para nós mesmos.

Mas na cruz encontramos a beleza paradoxal de sermos vencidos e quebrados, porque a aparente derrota de Jesus na cruz significou a maior vitória de todas—vida sobre a morte. Os nossos planos passam para segundo plano, porque Jesus passa a ser tudo para nós.

Texto de Filipe Sousa