
Quase um quarto da população mundial sente a solidão de perto. Num mundo de relacionamentos cada vez mais frios, qual o papel da igreja? Se por um lado não podemos romantizar a vida comunitária, por outro é na igreja que o verdadeiro romance de Cristo é revelado.
A unidade no corpo de Cristo é um dos assuntos que Paulo mais mastiga nas suas cartas. Aos Efésios escreve: “a fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo.” (Efésios 3:18,19)
Conhecer o amor de Deus é uma capacidade que só Deus pode dar e é entre santos que esse poder atua. Mais do que uma construção social, é uma realidade espiritual que resulta da união mística entre Jesus e os que lhe pertencem (Efésios 4:4-6). Por isso, não combater a distância que nos separa dos outros coloca-os involuntariamente à margem do Deus que os ama… E deixa-nos aquém do amor que podíamos experimentar! Todos perdemos quando nos fechamos com medo de perder.
Num dos salmos de peregrinação de Israel (Sl 133), o povo cantava: “Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!” Viver em união coloca o “organismo” acima da “organização” e implica a harmonia e cooperação de uma morada diária em vez da mera coexistência num salão ao domingo. O texto prossegue com óleo a escorrer da cabeça aos pés do sumo-sacerdote, mostrando que (1) a comunhão entre irmãos é Espírito Santo em acção e não coaching na pregação, (2) que o conceito de unidade (corpo) é indissociável do conceito de autoridade (cabeça) e que (3) sem união enfraquece a identidade e mirra a adoração. Por fim, a vida comunitária é comparada às fontes que regam a terra e lhe dão vida para sempre, transcendendo as barreiras naturais que dividem o país (Hermom no norte e montes de Sião ao sul).
Porque a vida de Cristo nos foi dada, louvemo-lo dando a nossa vida uns aos outros. E até quem não crê verá o amor que nos salvou!
Texto de João Antunes