A caridade como fruto da fé

Nesta caminhada para a Páscoa, temo-nos aprofundado em esvaziar-nos de nós mesmos para sermos cheios de Cristo. Deparamo-nos com a prática da caridade como meio que nos leva a satisfazer o coração em Jesus.
Não somos nós que inventamos as formas de amar. Enquanto cristãos, somos chamados a olhar para o princípio e o Verbo, conforme salientado em 2 João. A afeição cristã que se manifesta em caridade abençoa aqueles que precisam, conforme a Palavra de Deus, e não de acordo com o que julgamos ser melhor. Abençoar o outro com os bens que Deus nos deu, conforme as necessidades do próximo, é um exercício de esvaziamento de si, porque não é sobre nós. Este é o primeiro passo para que a caridade cresça como fruto da fé.
Não é a cultura que nos diz como devemos ser caridosos, nem somos nós que devemos decidir qual a necessidade do outro. Somos convocados a doar e abrir nossas carteiras à maneira de Deus. Fomos criados para agir conforme a vontade de Deus, pois ele sabe o que é melhor para nós.
A caridade também é um antídoto contra o engano e nos protege de nós mesmos. Quando João escreve sobre o amor fraternal, também fala sobre a verdade. “… rogo-te, não como escrevendo-te um novo mandamento, mas aquele mesmo que desde o princípio tivemos: que nos amemos uns aos outros.” (2 João 1:15). Logo a seguir, João menciona que muitos enganadores já passaram pelo mundo, alertando para que a afeição a Deus se revele em nós mediante o amor aos outros, e aqui temos a caridade como uma manifestação desse amor que na prática tem uma direção clara de Deus. Portanto, a caridade é mais que afeição, pois não é gerada em nós.
Como manifestação do amor de Deus, ela aprofunda nosso compromisso com a nossa comunidade de fé e nos fortalece enquanto igreja, protegendo-nos dos enganos externos enquanto amamos o outro conforme as necessidades que estão fora de nós mesmos. Tu és esvaziado para que o outro e tu sejam cheios daquele que entregou o próprio Filho para morrer por pecadores como eu e tu.

Texto de Sarah Oliveira

A cruz contra a cegueira

“Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás! Tu és para mim motivo de tropeço, pois não pensas nas coisas de Deus, mas, sim, nas que são dos homens.” (Mateus 16:23)

Quando Jesus diz que tem de morrer, Pedro diz que ele tem de ter pena de si próprio. Sempre que a morte de Jesus torna-se algo estranho para nós, ficamos prontos a tornar o Salvador numa mera projecção de nós mesmos. Ao não contemplarmos a cruz, ficamos cegos a olhar para dentro, incapazes de ver a nossa terrível necessidade de sermos reconciliados com Deus.

Para Pedro, não é possível que o Messias sofra e morra às mãos das autoridades judaicas. Este plano é inconcebível para quem tem planos humanos de domínio. De tal modo é assim que, no seu descaramento, Pedro nem se apercebe da promessa de ressurreição nas palavras do Mestre. Ao não contemplarmos a cruz, ficamos cegos no desejo de impormos sobre Jesus o nosso desejo de sair sempre por cima.

Pedro tenta Jesus com a mesma estratégia que Satanás usou no deserto—uma glória sem cruz. Ignorar a inevitabilidade da cruz é viver para uma salvação forjada, à moda de Satanás, que ignora o custo real e eterno da nossa ofensa contra Deus. Houve um preço a pagar e esse preço foi a morte do Filho de Deus. Ao não contemplarmos a cruz, colocamo-nos ao lado de Satanás e fechamos os olhos à nossa própria culpa.

A cegueira espiritual de Pedro é a mesma que alimentamos ao ignorarmos que o sacrifício de Jesus é o modelo prático que manifesta a sua salvação na nossa vida. A tentação de nos guiarmos pelas coisas dos homens vê-se no modo como evitamos o custo de sermos fiéis a Cristo. Quando isso acontece é como se, tal como Pedro, estivéssemos a sugerir a Jesus uma versão mais atraente de vivermos pela fé que não implique morrer diariamente para nós mesmos.

Mas na cruz encontramos a beleza paradoxal de sermos vencidos e quebrados, porque a aparente derrota de Jesus na cruz significou a maior vitória de todas—vida sobre a morte. Os nossos planos passam para segundo plano, porque Jesus passa a ser tudo para nós.

Texto de Filipe Sousa

Fé que persevera

É sempre uma alegria encontrar uma igreja nos lugares que escolhemos conhecer — mesmo nos mais pequenos e longínquos. Lugares onde, durante a semana, quase nada acontece, mas que, aos domingos, se enchem de vida: há um povo reunido, há culto, há adoração.

Muitas dessas igrejas são formadas por apenas alguns irmãos, reunidos com fé sincera em um Deus que continua a cuidar. E é justamente ali, na simplicidade e perseverança, que vemos o poder da fé.

Sabemos que Deus cuida de nós (1 Pedro 5:7) — essa é uma verdade que nos sustenta. No entanto, por sermos frágeis e, por vezes, esquecidos, precisamos ser lembrados continuamente desse cuidado que nunca falha.

A fé perseverante de poucos irmãos reunidos é uma lembrança. Continuar firme é difícil quando tudo ao redor é pouco (podendo parecer até insignificante), são os poucos a segurarem uns aos outros — mas ali encontramos um sinal de que ainda vale a pena permanecer, pois não fomos abandonados.

A Igreja de Jesus é viva, é grande e está espalhada por toda a Terra. Ela permanece, apesar de nós, geração após geração, sustentada pela graça de Deus. Mateus 16:18 diz que é sobre Jesus que a Igreja está edificada — por isso ela permanece. Não depende de nós, mas dele.

[Texto de Dayanne Dias]

Preciso de dois minutos do teu tempo e da tua voz

Querido leitor,

Tenho uma aula prática para ti. Preciso de 2 minutos do teu tempo e da tua voz. Por isso, se puderes, vai para um sítio onde possas falar à vontade, por favor.

Hoje não tenho um texto para te escrever, mas um do Spurgeon para ecoar nesta caixa de eco que é o instagram, porque ecoou no meu coração. Mas, para que seja um eco eficaz, desconfio que a tua voz desempenhe um papel importante. Empresta-ma.

Começa com uma passagem bíblica:

“Assim como os sofrimentos de Cristo se manifestam em grande medida a nosso favor, assim também a nossa consolação transborda por meio de Cristo.” 2 Coríntios 1:5

E vai assim:

“Existe uma bendita proporção. O Rei da providência tem um par de balanças – num prato coloca as provações do seu povo e no outro coloca as suas consolações. Quando o prato da provação está quase vazio, encontraremos sempre o prato da consolação numa condição semelhante; quando o prato das provações está cheio, encontraremos o prato da consolação igualmente pesado. Quando a noite se abate e a tempestade se aproxima, o capitão celestial está sempre mais perto da sua tripulação.

É uma bênção saber que, quando estamos mais abatidos, é aí que seremos mais elevados pelas consolações do Espírito. As provações abrem mais espaço para a consolação. Grandes corações só podem ser feitos por grandes problemas. A pá da tribulação cava mais fundo o reservatório do conforto e abre mais espaço para a consolação.

Quando o celeiro está cheio, o homem pode viver sem Deus. Quando o saco está a rebentar de ouro, tentamos viver sem tanta oração. Mas tirem-nos as nossas cabaças, e chamamos pelo nosso Deus. Não há clamor tão bom como aquele que vem do fundo das montanhas, nem nenhuma oração é tão sincera como aquela que sobe das profundezas da alma, no meio de intensas provações e aflições. Trazem-nos até Deus e, então, somos mais felizes; já que a proximidade de Deus é felicidade. Vinde, crentes atribulados, não vos aborreçais com as vossas pesadas tribulações, pois elas são os arautos de grandes misericórdias.”

Amém?

[Texto de Manel Ferreira]

O jejum esvazia e o jejum enche.

Porque é que andamos a falar de Jejum neste tempo que antecede a Páscoa? O que é que o jejum tem a ver comigo e contigo, em Março de 2025? Provavelmente, se fores como eu, não tem muito. Mas temos estado a aprender acerca do jejum, em igreja, e tenho aprendido umas coisas que gostava de partilhar.

O jejum esvazia. Tira uma coisa para dar lugar a outra. O jejum enche.

Estudámos cinco realidades que devemos procurar ser cheios em tempo de jejum: Oração, Escrituras, Sabedoria, Espírito Santo e Ousadia. Algumas delas já me eram familiares e até as associava a tempos de jejum. Mas quero destacar a ousadia.

Podemos definir ousadia de várias maneiras. Ousadia é intrepidez. Ousadia é coragem. Ousadia é ter fé. Ousadia é não ser tímido. Ousadia é uma das características mais repetidas pelos apóstolos no livro de Actos e, no entanto, não estamos habituados a procurá-la para nós. Temos medo de parecer convencidos, temos medo que dê errado e que façamos figura de parvos.

Ousadia pede tudo o que somos, e a ideia de pôr todos os ovos no mesmo cesto e isso correr mal, assusta-nos. Assusta-me. Mas aprendemos com personagem bíblicas como Ester que é mesmo isso que devemos fazer: apostar tudo em Deus.

Ester vivia no palácio. Enquanto isso, o seu povo – o povo judeu – ficou em apuros e precisou de ajuda. Tudo apontava para ser ela o mecanismo de acção dessa ajuda. Mas isso não ia acontecer sem grande risco para Ester. Se estavas a pensar que ousadia é só para quem não tem medo, estás enganado. Ousadia é ir com medo. Ester sabia que a probabilidade de morrer era grande. Mas foi. E, indo, pediu que o povo fizesse uma coisa com ela: jejum e oração. Ester estava convencida do poder do jejum e da oração, mais do que estava do seu medo. Estava convencida de que nesse tempo de jejum ela podia ser cheia de – imaginem só – ousadia!

Deus convida-nos a esvaziar-nos e enchermo-nos do que é realmente importante. Quando o fazemos, percebemos que o mais importante não é a nossa vida, mas o Deus que servimos e nos ama.

Ser ousado é perceber a grandeza de Deus e querer fazer parte dos seus grandes planos. Esvazia-te. Mas esvazia-te porque te queres encher.

Texto de Mariana Ferreira

A maldição da cruz traz em si uma celebração eterna

O Salmo 22 é citado por Jesus na cruz. No Gólgota, Jesus clama “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?”
O que surpreende neste Salmo é que no meio do desamparo, há uma firme confiança. Confiança na aliança (V. 1), confiança no livramento divino (V. 4,5), confiança na soberania e na providência de Deus (V. 9,10).
O Salmo apresenta a derrota perante inimigos poderosos (V. 11-17), mas ainda assim o derrotado demonstra uma confiança ímpar (V. 19) em Deus, Deus o livrará! Jesus viveu este Salmo! E nós, demonstramos esta confiança no dia a dia?
Ora, é útil perceber que, no mesmo salmo, esta confiança vem acompanhada de louvor (v. 22,23,25,26,27). Não é um louvor oco e mecânico. O louvor é prescrito porque Deus livra, porque Deus não despreza a dor do aflito, ele o ouve e socorre. Os sofredores comerão e se fartarão – Deus dará fartura ao que contava todos os seus ossos. Como está o nosso louvor?
O Salmo 22 é também escatológico, aponta para o futuro, para uma eternidade fulgorosa na presença de Deus.
Termina com um dos versos que mais gosto, o 31. Se o Salmo começa em trevas, no desamparo de Cristo na cruz, o Salmo termina no resultado da cruz, num povo que nasce da maldição do madeiro. Porque Cristo morreu, há um povo que o anuncia, que foi criado por Ele e que o louva.
Deus transforma morte em vida através da morte do seu Filho amado. A cruz não é o fim, é o início de um banquete, em que mais do que a barriga encheremos a nossa boca de louvor.
Mas o banquete começa aqui e agora, com a proclamação de quem Jesus é! Nas semanas que antecedem a Páscoa que possamos testemunhar de Cristo e louvá-lo com corações gratos!

Texto de Tiago Falcoeiras