O mediador ansiado por Job

Job está deprimido, os filhos morreram, as riquezas desapareceram. Job sofre, o homem íntegro e justo, que temia a Deus e evitava fazer o mal, já desejou não ter nascido no capítulo 3. No mesmo capítulo diz ansiar pela morte que não vem. No capítulo 6, diz que as flechas do Todo-poderoso estão cravadas nele, que os terrores de Deus o assediam – se ao menos Deus o esmagasse.
Job deseja fim para a sua situação, a morte é um fim bom para a circunstância em que se encontra. Já te sentiste assim? A dor e a miséria afogam-nos. Job clama por libertação e a morte é a única libertação que antevê.
Job tem uma visão alta da santidade de Deus, ao mesmo tempo que despreza aquilo em que a sua vida se tornou (cap. 7). Dor, desesperança, infelicidade.
No capítulo 9, Job contrasta a sabedoria e o poder de Deus com a fraqueza e insignificância humanas. Job não vê inicialmente esperança para o homem, mas o capítulo termina em esperança para nós. Job anseia por um mediador entre homem e Deus, se existisse um árbitro entre Deus e homem, alguém que afastasse dele a vara de Deus, para que o seu terror não o assustasse!
Job ansiava por esse mediador, nós podemos ir até Ele. Aquele que afasta a ira de Deus já veio, morreu na cruz e sofreu a ira de Deus que nos estava destinada.
“Mataram o Cordeiro, ressuscitou o Leão/A morte nem a pedra conseguiram segurar/Em um trono de glória, exaltado Ele está” (Ele é – Eveny Braga)
Jesus veio para morrer, identificando-se connosco na sua encarnação, cumprindo a lei que não poderíamos cumprir e pagando o preço para que possamos estar sem medo perante Deus. Por Cristo posso me achegar a Deus como Pai, sou seu filho amado, resgatado e adoptado. Posso ir até Ele reconhecendo o seu grande amor, amor provado e enunciado em Cristo.
Que na dor, miséria e sofrimento não nos esqueçamos de Cristo, nosso sumo-sacerdote, que se compadece das nossas fraquezas!
Que a certeza do autor de Hebreus possa ser a nossa, Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno. (Hebreus 4:16)

Texto de Tiago Falcoeiras

A maldição da cruz traz em si uma celebração eterna

O Salmo 22 é citado por Jesus na cruz. No Gólgota, Jesus clama “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?”
O que surpreende neste Salmo é que no meio do desamparo, há uma firme confiança. Confiança na aliança (V. 1), confiança no livramento divino (V. 4,5), confiança na soberania e na providência de Deus (V. 9,10).
O Salmo apresenta a derrota perante inimigos poderosos (V. 11-17), mas ainda assim o derrotado demonstra uma confiança ímpar (V. 19) em Deus, Deus o livrará! Jesus viveu este Salmo! E nós, demonstramos esta confiança no dia a dia?
Ora, é útil perceber que, no mesmo salmo, esta confiança vem acompanhada de louvor (v. 22,23,25,26,27). Não é um louvor oco e mecânico. O louvor é prescrito porque Deus livra, porque Deus não despreza a dor do aflito, ele o ouve e socorre. Os sofredores comerão e se fartarão – Deus dará fartura ao que contava todos os seus ossos. Como está o nosso louvor?
O Salmo 22 é também escatológico, aponta para o futuro, para uma eternidade fulgorosa na presença de Deus.
Termina com um dos versos que mais gosto, o 31. Se o Salmo começa em trevas, no desamparo de Cristo na cruz, o Salmo termina no resultado da cruz, num povo que nasce da maldição do madeiro. Porque Cristo morreu, há um povo que o anuncia, que foi criado por Ele e que o louva.
Deus transforma morte em vida através da morte do seu Filho amado. A cruz não é o fim, é o início de um banquete, em que mais do que a barriga encheremos a nossa boca de louvor.
Mas o banquete começa aqui e agora, com a proclamação de quem Jesus é! Nas semanas que antecedem a Páscoa que possamos testemunhar de Cristo e louvá-lo com corações gratos!

Texto de Tiago Falcoeiras