A maldição da cruz traz em si uma celebração eterna

O Salmo 22 é citado por Jesus na cruz. No Gólgota, Jesus clama “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?”
O que surpreende neste Salmo é que no meio do desamparo, há uma firme confiança. Confiança na aliança (V. 1), confiança no livramento divino (V. 4,5), confiança na soberania e na providência de Deus (V. 9,10).
O Salmo apresenta a derrota perante inimigos poderosos (V. 11-17), mas ainda assim o derrotado demonstra uma confiança ímpar (V. 19) em Deus, Deus o livrará! Jesus viveu este Salmo! E nós, demonstramos esta confiança no dia a dia?
Ora, é útil perceber que, no mesmo salmo, esta confiança vem acompanhada de louvor (v. 22,23,25,26,27). Não é um louvor oco e mecânico. O louvor é prescrito porque Deus livra, porque Deus não despreza a dor do aflito, ele o ouve e socorre. Os sofredores comerão e se fartarão – Deus dará fartura ao que contava todos os seus ossos. Como está o nosso louvor?
O Salmo 22 é também escatológico, aponta para o futuro, para uma eternidade fulgorosa na presença de Deus.
Termina com um dos versos que mais gosto, o 31. Se o Salmo começa em trevas, no desamparo de Cristo na cruz, o Salmo termina no resultado da cruz, num povo que nasce da maldição do madeiro. Porque Cristo morreu, há um povo que o anuncia, que foi criado por Ele e que o louva.
Deus transforma morte em vida através da morte do seu Filho amado. A cruz não é o fim, é o início de um banquete, em que mais do que a barriga encheremos a nossa boca de louvor.
Mas o banquete começa aqui e agora, com a proclamação de quem Jesus é! Nas semanas que antecedem a Páscoa que possamos testemunhar de Cristo e louvá-lo com corações gratos!

Texto de Tiago Falcoeiras

Com quem tens derramado o coração?

Os Vampire Weekend têm uma grande estrofe numa das suas canções. Traduzindo toscamente para português, vai assim:

A raiva quer uma voz:
As vozes querem cantar
Os cantores harmonizam
Até não conseguirem ouvir nada

É uma grande sequência, que pode ser aplicada a nós. Estejamos nós a defender grandes causas, estejamos nós a defender péssimas, queremos muito é falar. E é fácil que queiramos falar tanto que cheguemos ao ponto de deixar de ouvir.

Ainda que tenha um bonito nome judeu (Ezra, ou Esdras no português), não estou aqui para aplicar verdades cantadas pelo vocalista dos Vampire Weekend, mas da Palavra de Deus. Em Provérbios 18:2 encontramos esta passagem:

“O insensato não tem prazer no entendimento, senão em externar o seu interior.”

Podemos parafrasear e dizer que os tolos não estão assim tão interessados em ser sábios, e um dos sintomas é a vontade que abafa todas as outras de exteriorização das suas opiniões. Uma compulsão que o tolo considera incontrolável de dizer o que lhe vai na mente.

Revejo-me nesta triste caricatura. Trago à memória a quantidade de conversas que não foram conversas, porque estava só à espera que a outra pessoa se calasse para dar a minha opinião.

Curiosamente, a Bíblia tem mais a dizer acerca de exteriorização e derramamento das coisas que temos no coração. No Salmo 62:8 somos convidados a derramar os nossos corações a Deus, porque ele é o nosso refúgio. A oração é isso também.

A resposta está sempre no que Deus faz por ti, e não no que tu fazes por Deus ou pelos outros. Podes ter muitas opiniões que derramas a todos, mas, se não te derramas a Deus, a Bíblia chama-te insensato. Tem-me chamado a mim, muitas vezes.

Uma pessoa que derrama o seu coração a Deus não tem necessidade de derramar as suas palavras aos homens. Quando experimentas derramamento com Deus podes experimentar a moderação com os homens. E, na hora de então usares as palavras, vais querer falar da Palavra que te conquistou.

Jesus é a nossa resposta e o que deve moderar e encher as tuas respostas. É isso que celebramos na Páscoa: Jesus é a resposta. Vamos harmonizar a louvá-lo.

[Texto de Manel Ferreira]